terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

As 37 Práticas dos Bodhisattvas

Namo Lokeshvaraya


Avalokiteshvara! Protector e Mestre Supremo!
Ainda que reconheças a não aparição e a não cessação dos fenómenos
Dedicas-te totalmente ao bem dos seres.
Perante vós, contínua e respeitosamente, eu me prosterno com o meu corpo, a minha palavra e a minha mente.

Os perfeitos iluminados, fontes de felicidade e bem últimos
Surgem da realização do Sagrado Dharma
Uma vez que esta capacidade depende de o saber praticar
Aqui explicarei a prática dos Bodhisattvas

1.

Neste momento ao obtermos a rara e grande nave com todas as liberdades e riquezas
Aplicarmo-nos, dia e noite e sem qualquer distracção, à escuta, à reflexão e à meditação
A fim de nos libertarmos a nós mesmos e a todos os outros do oceano do samsara
É a prática dos Bodhisattvas

2.

No nosso país natal o apego corre como um rio
E o ódio aos inimigos brilha como um fogo.
Obscurecidos pela escuridão da ignorância esquecemos o que se deve aceitar e o que se deve rejeitar.
Abandonar este lugar é portanto a prática dos Bodhisattvas.

3.

Longe dos lugares negativos as emoções perturbadoras acalmam-se gradualmente.
Livre das distracções, a prática da virtude aumenta espontaneamente.
Quando a consciência se torna clara, a confiança no caminho cresce.
Retirar-se para um local solitário é a prática dos Bodhisattvas.

4.

Os companheiros que há muito caminham juntos, um dia separar-se-ão.
As riquezas arduamente conseguidas, um dia abandonar-se-ão.
Até a consciência, qual hóspede, um dia deixará a sua pensão, o corpo.
Abandonar as preocupações desta vida é a prática dos Bodhisattvas.

5.

Em má companhia os três venenos aumentam
A actividade do estudo, da reflexão e da meditação degeneram,
E o amor e a compaixão desaparecem
Separar-se das más companhias é a prática dos Bodhisattvas.


6.

Quando confiamos no sagrado amigo espiritual, as nossas faltas esgotam-se
E, qual lua crescente, aumentam as boas qualidades.
Considerá-lo mais precioso que o próprio corpo
É a prática dos Bodhisattvas.

7.

A quem são os deuses mundanos capazes de proteger,
Eles mesmos presos na prisão do samsara?
Tomar refúgio nas Três Jóias Infalíveis
Essa é a prática dos Bodhisattvas.

8.

Buda ensinou que todos os sofrimentos dos reinos inferiores, extremamente difíceis de suportar,
São o fruto das más acções de cada um.
Abster-se constantemente, mesmo a custo da própria vida, da prática das más acções
É a prática dos Bodhisattvas.

9.

A felicidade dos três reinos, qual gota de orvalho sobre uma haste de erva,
Desaparece naturalmente de um momento para o outro.
Esforçar-se por alcançar a suprema e imutável libertação,
É a prática dos Bodhisattvas.

10.

Quando estão a sofrer todas as nossas mães que, desde tempos imemoriais, nos trataram desveladamente
Que importância tem a nossa felicidade?
Gerar a mente de Iluminação com o objectivo de libertar os infinitos seres sencientes
É a prática dos Bodhisattvas.

11.

Todo o sofrimento sem excepção procede do desejo de uma felicidade egoísta.
A perfeita Iluminação surge do pensamento de beneficiar os outros.
Trocar verdadeiramente a própria felicidade pelo sofrimento dos demais
É a prática dos Bodhisattvas.

12.

Dedicar o nosso corpo, a nossa felicidade e os nossos méritos passados presentes e futuros
A quem, sob o poder de um grande desejo,
Rouba as nossas posses ou incita alguém a fazê-lo
É a prática dos Bodhisattvas.

13.

Mesmo que, apesar da nossa inocência,
Alguém nos corte a cabeça.
Pela força da compaixão, tomar sobre nós todos os erros
É a prática dos Bodhisattvas.

14.

Elogiar, repetindo com amorosa atitude as qualidades de uma pessoa
Ainda que esta propague por todos os três mil milhões de universos
Rumores desagradáveis a nosso respeito.
É a prática dos Bodhisattvas.

15.

Se alguém no meio de uma multidão
Revelar as nossas faltas e nos proferir palavras duras
Reverenciar esta pessoa como a um amigo espiritual
É a prática dos Bodhisattvas.

16.

Mesmo que alguém, a quem cuidamos com o carinho que temos pelo nosso próprio filho,
Nos trate como seu inimigo
Qual mãe cujo filho está acometido de grave doença,
Redobrar de amor por essa pessoa é a prática dos Bodhisattvas.

17.

Mesmo que uma pessoa igual ou inferior a nós
Por orgulho nos difame
Venerá-lo como a um Mestre no topo da coroa da nossa cabeça,
É a Prática dois Bodhisattvas.

18.

Ainda que privados da nossa subsistência, sujeitos à constante depreciação de todos
Ou atingidos por doença grave ou força demoníaca
Tomar sobre nós os sofrimentos e os actos negativos de todos os seres, Sem ficar deprimido, é a prática dos Bodhisattvas.

19.

Embora famosos, por todos reverenciados
E tão ricos quanto Vashravana. Permanecer sem arrogância,
Por ter percebido quão vãs são as glórias e as riquezas desta existência,
É a prática dos Bodhisattvas.

20.

Sem dominar o inimigo que é a nossa própria raiva,
Tentar subjugar os inimigos externos apenas irá aumentá-los
Subjugar a nossa mente por meio de exércitos de amor, bondade e compaixão
É a prática dos Bodhisattvas.

21.

Os prazeres dos sentidos são como a água salgada
Quanto mais os experimentamos mais o desejo aumenta.
Abandonar de imediato todos os objectos geradores de apego
É a prática dos Bodhisattvas.

22.

Todas as aparências são a nossa própria mente.
A natureza primordial está para além de todas as construções.
Sabendo isto, não construir a dualidade sujeito-objecto
É a prática dos Bodhisattvas.

23.

Ao encontrar um objecto belo.
Considerar que tem a natureza de um arco-íris num dia de verão,
Percebê-lo atraente ainda que não verdadeiramente existente, Abandonando assim todo o desejo e apego, é a prática dos Bodhisattvas.

24.

Os diferentes sofrimentos são como sonhar com a morte do nosso filho.
Como é cansativo tomar as aparências por realidade.
Perante circunstâncias adversas, considerá-las ilusórias
É a prática dos Bodhisattvas.

25.

Se aquele que aspira atingir a Iluminação deve oferecer até o próprio corpo
Quanto mais os objectos exteriores!
Ser generoso sem qualquer expectativa pelo resultado ou a recompensa
É a prática dos Bodhisattvas.

26.

Se sem disciplina é impossível realizar o próprio bem,
Quanto mais pensar em assim realizar o dos outros.
Manter uma disciplina sem quaisquer ambições mundanas
É a prática dos Bodhisattvas.

27.

Para um Bodhisattva que anseia pelos prazeres da virtude,
Todos os que lhe fazem mal são como tesouros preciosos.
Cultivar uma paciência livre de ódio ou animosidade contra quem quer que seja
É a prática dos Bodhisattvas.

28.

Mesmo os Shravakas e os Pratyeka-Buddhas, que apenas alcançam o bem pessoal
São tidos como tão persistentes como aqueles que tentam apagar um fogo nos seus próprios cabelos.
Acumular diligência para o bem de todos os seres é a fonte de todas as qualidades.
Assim é a prática dos Bodhisattvas.

29.

Tendo compreendido que a visão penetrante, baseada na calma mental,
Destrói completamente as emoções negativas
Cultivar uma concentração meditativa que verdadeiramente transcenda os quatro reinos sem forma
É a prática dos Bodhisattvas.

30.

Sem a Sabedoria as cinco outras Paramitas não são suficientes.
Para se alcançar a Perfeita Iluminação
Treinar a sabedoria dotada de método e livre dos conceitos de sujeito-objecto-acção
É a prática dos Bodhisattvas.

31.

Se não examinamos a nossa própria ilusão
Podemos ter a aparência de um praticante do Dharma enquanto fazemos o que não é Dharma
Observar sempre as nossas imperfeições e abandoná-las
É a prática dos Bodhisattvas.

32.

Se sob o poder das emoções negativas, difamamos ou expomos as faltas de outros Bodhisattvas
Nós próprios ficaremos corrompidos
Não expor as faltas daqueles que entraram no Grande Veículo
É a prática dos Bodhisattvas.

33.

As discussões, debates e argumentações com o intuito de adquirir honras e riquezas
Degeneram as actividades do estudo da reflexão e da meditação
Desistir de todo o apego à família, ao lar, aos amigos e aos nossos patrocinadores
É a prática dos Bodhisattvas.

34.

Palavras duras perturbam a mente dos outros
E fazem degenerar a conduta dos Bodhisattvas
Renunciar a toda a palavra que magoa os demais
É a prática dos Bodhisattvas.

35.

Quando habituados a emoções negativas torna-se difícil revertê-las com antídotos.
Por isso, logo que o apego ou as outras surjam
No primeiro instante da sua presença mental, usar o antídoto como arma que destrói essas emoções
É a prática dos Bodhisattvas.

36.

Em resumo, onde quer que estejamos e o que quer que façamos,
Devemos interrogarmo-nos sobre o estado da nossa mente.
Beneficiar os outros mantendo um estado mental continuamente atento e vigilante
É a prática dos Bodhisattvas.

37.

Para que todas as virtudes assim diligentemente alcançadas
Possam purificar o sofrimento de um ilimitado número de seres sencientes
Com a sabedoria que está livre dos conceitos de sujeito-objecto-acção
Dedicarmos toda a virtude destas práticas à Iluminação
É a prática dos Bodhisattvas

De acordo com o sentido ensinado nos Sutras, nos Tantras e nos Shastras
E seguindo os ensinamentos dos Seres Sagrados
Formulei estes versos de “As Trinta e Sete Práticas dos Bodhisattvas”
Para o benefício daqueles que se querem treinar no caminho dos Bodhisattvas.

Por ser de inteligência inferior e por ter pouco estudo
Esta não é uma obra que vá deleitar os eruditos
Mas, como se baseia nos ensinamentos dos Sutras e dos Seres Sagrados
Creio que “As Trinta Sete Práticas dos Bodhisattvas” estão livres de erros.

Contudo, uma vez que a vasta conduta dos Bodhisattvas
É difícil de compreender por alguém que, como eu, tem um intelecto inferior,
Peço perdão aos Seres Sagrados
Pelos possíveis erros contradições e incoerências.

PELA VIRTUDE RESULTANTE DESTA OBRA POSSAM TODOS OS SERES
ATRAVÉS DA SUPREMA MENTE DE ILUMINAÇÃO RELATIVA E ABSOLUTA
TORNAREM-SE IGUAIS AO PROTECTOR AVALOKITESHVARA
QUE NÃO PERMANECE EM NENHUM DOS EXTREMOS, SAMSARA OU NIRVANA
Estes versos foram compostos na caverna Ngulchu Rinchen pelo monge Togme,um proponente de escritura e lógica,com o intuito de fazer o bem à sí e aos outros.

Traduzido do tibetano para o inglês por Heidi I, Kopple
Traduzido do inglês para o português do Brasil por Ida Bernstein
Revisto para o português do Brasil por Lúcia Soares
Revisto para o português de Portugal por ani N. T.
Editado por Iraneide C. Oliveira
Digitado por Sylvia Abramson

Casa da Cultura do Tibete

Um comentário:

Dave disse...

Muito boa essa tradução.
Obrigado.